Coordenação do Nossa Itaquera na Reunião do Plano de Metas da Zona Leste

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

POR UMA EFLCH UNIDA E NO BAIRRO PIMENTAS





Por uma EFLCH unida e no bairro Pimentas.


 Prof. Dr. Janes Jorge - Departamento de História - 27/07/2012


Neste ano de 2012, professores, alunos e técnicos administrativos tem discutido intensamente os graves problemas por que passa a EFLCH. Inúmeros fatores são apontados como causadores do que vem  sendo chamado de “crise da EFLCH”, embora o próprio entendimento do que seja tal crise varie bastante na comunidade universitária, bem como a melhor forma de superá-la. O objetivo deste texto é discutir em que medida a localização do campus é fator agravante ou provocador dos problemas porque passa a EFLCH. A tese aqui defendida é de que a chamada crise da EFLCH não decorre de fatores geográficos – localização e características do entorno - e que sua presença no bairro Pimentas e na cidade de Guarulhos é fator dedesenvolvimento social, político e urbano da Região Metropolitana de São Paulo, sem comprometer sua excelência acadêmica.



É preciso ressaltar que ao se decidir pela localização do campus da EFLCH não se deve ter no horizonte perspectivas e interesses de curto prazo, embora eles sejam os que parecem ter mais sentido do ponto de vista individual. Houve tempo que o belo campus Butantã da USP era local isolado e distante para muitos, o mesmo ocorrendo com o campus da Unicamp. Por outro lado, mudanças de endereço de campi não são estranhos à vida universitária, como a própria história da FFLCH/USP indica, embora a mudança de endereço Faculdade de Direito da USP, do Largo de São Francisco, não tenha prosperado. Uma correlação mecânica entre a chamada crise da EFLCH e o bairro Pimentas transfere a responsabilidade por tal crise para uma agente exterior ao mundo universitário. Nesse caso, o fator provocador não mais decorre da estrutura universitária e da ineficiência com que professores e alunos atuam dentro dela ou de sua incapacidade em transformá-la, mas é transferida, mesmo que involuntariamente, para o bairro popular.


É preciso evitar a ilusão de que bastaria mudar o campus do lugar para que os problemas da EFLCH acabassem, pois isso poderia gerar nova frustação caso eles se repetirem alhures. O mais provável é que a mudança do local do campus somente mude o endereço de grande parte problemas se eles não forem discutidos em sua complexidade e enfrentados coletivamente.


2. Os problemas de licitação e a precariedade do campus, as greves de alunos e professores, as dificuldades de diálogo na EFLCH e na UNIFESP, não são

problemas decorrentes da localização do campus. As dificuldades de transporte sim. Mas, nesse caso, deve- se deixar o local ou contribuir para tais dificuldades sejam superadas em benefícios da comunidade universitária e da vizinhança, mesmo que tendo como horizonte um período de tempo mais longo?


É compreensível que professores e estudantes que enfrentam, faz anos, todo tipo de dificuldade estejam entre desanimados e furiosos, ou mesmo saturados de tantos debates, ainda mais depois de um semestre tão conflituoso, embora também de conquistas, como, por exemplo, as novas áreas para o campus.

Mas, começar do zero, em outro local, sabe-se lá onde, não parece a melhor saída.


A EFLCH e a democratização da Região Metropolitana de São Paulo.


Um bom argumento, talvez central, para que a EFLCH permaneça no bairro Pimentas decorre da necessidade de construir uma metrópole mais igualitária, em todos os sentidos. Como é necessário expandir o ensino superior público na Região Metropolitana de São Paulo, 20 milhões de pessoas, cerca de 10% da população brasileira, é recomendável, do ponto de vista da justiça social e do desenvolvimento urbano, que as universidades ocupem lugares outrora preteridos da metrópole, como os seus extremos. Em geral, urbanistas e geógrafos concordam que é preciso criar, "novas centralidades", algo benéfico para toda a metrópole, inclusive para suas áreas privilegiadas, que hoje também enfrentam graves problemas de mobilidade urbana e segurança. Não é mais possível desenvolver a Região Metropolitana de São Paulo concentrando ações e recursos em regiões historicamente beneficiadas pelo poder público, pois ocupadas preferencialmente por segmentos de classe média alta da população e por ricos. É preciso conectar a periferia a periferia.


Seria irônico que a universidade pública, que faz tal diagnóstico em inúmeros estudos, aja no sentido contrário ao que recomenda para a sociedade. Quanto à região central da cidade de São Paulo, talvez sua melhor vocação, hoje, seja para moradia. A expansão da Unifesp na região metropolitana de São Paulo e cidades próximas, responde a essa necessidade de democratização da metrópole. Ao desenvolver nessas cidades uma estrutura universitária pública, amplia a consciência crítica e cidadã. Há professores da EFLCH em conselhos municipais de Guarulhos e participando de outras iniciativas municipais. Essa participação é tensa, pois interfere diretamente em conflitos locais, mas, sem dúvida, é transformadora. Guarulhos é a segunda cidade mais importante da Região Metropolitana de São Paulo, uma das mais importantes do Brasil. A EFLCH quando funcionar plenamente poderá polarizar toda a região Leste e Norte da Região Metropolitana, parte do Vale do Paraíba. São milhões de pessoas, dezenas de cidades. Seguramente não é o campus ideal para o aluno ou professor que mora na Zona Sul e Oeste de São Paulo, pela precariedade do transporte público, mas a situação é melhor para o paulistano que mora na Zona Leste e Norte, ou em Itaquaquecetuba, por exemplo.


3. Por fim, cabe lembrar que na Zona Leste e Norte de São Paulo, e em parte de Guarulhos, há bairros de classe média alta, futuramente, poderão ser moradia de professores e mesmo de alunos.


A EFLCH e o bairro Pimentas.


Ao longo do século XXI o bairro Pimentas mudou, e, segundo seus moradores, para melhor. Sem dúvida foi a nova conjuntura econômica nacional e os investimentos municipais que alteraram o bairro. O campus não causou, por sí só, a valorização imobiliária de que muitas vezes foi acusado. Haveria valorização imobiliária de qualquer jeito. Mas a presença do campus no bairro foi benéfica. Escolas da região recebem alunos do campus e professores da rede pública vão para a EFLCH. Docentes da Unifesp se engajam em atividades de pesquisa e extensão, que, embora tímidas, tendem a aumentar. Mais uma vez, aqui, tendo-se o curso de história como referência, é possível afirmar que os resultados são promissores.


Evidentemente isso poderia ser feito mesmo que a EFLCH estivesse em outra região da metrópole. Mas é inegável que é muito diferente ir para um bairro popular fazer atividades de extensão e estar localizado em um bairro popular. Nesse caso, o compromisso com a realidade local se impõe de forma inescapável, pois a comunidade universitária trata de seu próprio destino.

O campus também traz recursos para o bairro: atrai investimentos e atenção do poder público (federal, estadual e municipal), cria empregos para moradores da região, ajuda a movimentar o comércio, o aluguel de residências, etc. No longo prazo, pode criar dinâmicas que ampliem as opções culturais e as perspectivas da população local, tornando o bairro mais heterogêneo e diversificado. Salvo engano, quando o quadro de professores estiver completo serão cerca de 250 professores, centenas de funcionários e milhares de alunos vindos de muitos lugares diferentes. Para muito será a primeira vez que estarão em um bairro de origem popular.


A EFLCH e o conhecimento


De nada adiantaria a EFLCH ser benéfica para o desenvolvimento de São Paulo e para o bairro Pimentas se não for capaz de produzir conhecimento de qualidade. Tendo como parâmetro a área de história – faltam dados e conhecimento para analisar as outras áreas – isso vem ocorrendo plenamente.

O curso de História se não é o melhor e o mais difícil curso de História de São Paulo, se iguala ao melhor. E há alunos concluindo o curso e disputando com êxito o mercado de trabalho e a pós-graduação é 4 hoje realidade e deve se expandir de forma acelerada. O departamento também tem realizado encontros

acadêmicos periodicamente, sendo que no primeiro semestre, apesar de todas as dificuldades, houve um encontro internacional exitoso. Professores e alunos têm seus projetos aprovados pela FAPESP e convênios com instituições importantes, como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e, enquanto houve aulas, grupos de pesquisa se reuniam periodicamente. Em julho, estudantes de História acolheram no campus e no CEU o Encontro Nacional dos Estudantes de História, que contou com cerca de 450 participantes, a maioria de fora de São Paulo.



A questão da distância e a evasão dos alunos.



Alguns apontam os índices de evasão dos alunos da EFLCH como prova cabal de que o campus é inviável no bairro Pimentas que seria caracterizado pelo “isolamento”. Evidentemente, a precariedade do transporte público e, em especial, a ausência de uma estação de metro no bairro Pimentas causa grandes prejuízos à estudantes, técnicos administrativos e professores, bem como à população local. Contudo, não é possível correlacionar tão imediatamente um suposto “isolamento” do bairro e as taxas de evasão pois há
outros problemas afetando a vida dos estudantes.



Uma possibilidade, talvez a mais provável, é que os alunos fiquem desanimados não pelo fato de irem para um campus, de fato, para muitos deles, distante, mas sim por chegar a esse campus e não encontrar condições adequadas de estudo e convivência acadêmica. Portanto, somente se a EFLCH estivesse plenamente instalada se poderia fazer essa correlação entre evasão e distância. Por outro lado o simples arrolamento estatístico da evasão não explica as suas causas demandando, antes disso, estudos qualitativos, pois a evasão pode decorrer de inúmeros fatores, alguns até mesmo positivos, como maiores possibilidades de escolha por parte do estudantes.



Ainda que seja deficiência gravíssima e de solução complexa, alunos, professores e técnicos administrativos não são passivos diante da precariedade da rede de transportes públicos e procuram inventar soluções, como os fretamentos e caronas. Nem sempre são as ideais, e a luta pela instalação de uma estação de metro junto ao campus é um sonho possível que devia começar a ser construído imediatamente, inclusive porque poderia congregar a comunidade universitária e a população do bairro e arredores. Embora promissor, é preciso aguardar para avaliar a qualidade do sistema Orca recém-conquistado. É interessante observar como o sistema de caronas entre professores, que funciona relativamente bem, não deixa de estreitar os encontros e conversas com os colegas, indicando que o enfrentamento conjunto das dificuldades pode ter efeito agregador e construtivo.



5.   Um novo campus: novas promessas? Novos problemas?


É possível que algumas pessoas que pensam na saída do bairro Pimentas como solução para os problemas da EFLCH idealizem o novo local que seria escolhido. A situação começaria a mudar de figura quando o novo local fosse indicado. Seria o momento em que os problemas do novo local começariam a

aparecer. Por exemplo, será que ele seria tão mais perto do que o atual local para estudantes e professores? E para os técnicos-administrativos? Haveria verba garantida para essa operação? O governo federal apoiaria a medida?

 E o governo municipal da nova cidade escolhida, apoiaria? Mesmo que fossem de partidos políticos diferentes às vésperas de uma eleição presidencial? E a UNIFESP, aceitaria uma EFLCH na cidade de São Paulo?


É difícil acreditar que se estrutura universitária não foi capaz de oferecer um prédio novo para a EFLCH possa, rapidamente, oferecer todo um campus novo, sem problemas de infraestrutura e bem localizado. Não corre-se o risco de iniciar um novo ciclo de reivindicações do zero, tendo que refazer todas as relações que, bem ou mal, já existem em Guarulhos - desde o cadastramento de escolas para a licenciatura até contatos com o poder municipal?

E, mais grave ainda, não se corre o risco de perder tudo o que foi conquistado no primeiro semestre, apesar de tudo, sem qualquer garantia de se ter algo melhor em outro lugar? Parece um risco alto demais.


Por uma EFLCH unida no campus de Guarulhos


Diante do que foi dito acima, acredita-se que a EFLCH, que já tem uma bela história de lutas, conquistas e realizações em Guarulhos, permaneça unida no campus atual, preparando-se para sua expansão com novos cursos e alunos, encontrando seu lugar na UNIFESP, na metrópole e no universo do conhecimento.

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